AHARA – ANNA YOGA
AHARA, alimento não é apenas o alimento em si mas é de facto o alimento em si. Não basta saber o que comer mas como e quando comer. Todos os Seres Vivos precisam de comida para manter a Vida. Comer é um acto sagrado e deve ser sacralizado. Para isso vamos ter que ELIMINAR RAJAS e TAMAS que insistimos em alimentar e PROMOVER CONSCIENTEMENTE SATWA para gerar a força de acção e coragem necessárias à mudança que desejamos: firmeza, paz e serenidade no corpo e mente. Essa verdadeira forma de Ser e Estar em plena ECOLOGIA PESSOAL e que define a verdadeira Saúde.
Vamos trazer os conceitos teóricos para a condição prática :
Rajas é atividade e movimento. É desperto e mantido pelo movimento/exercício/mudança regular. Manter uma vida activa, com mudanças e a prática regular de exercício físico não é um luxo mas uma necessidade. Ter um Professor/Terapeuta não é um capricho mas uma motivação necessária para TAPAS, disciplina, e SVADHYAYA, auto-estudo.
Tamas é inércia, escuridão e morte. Quando deixamos de nos cuidar e responsabilizar pela manutenção do estado de saúde. Quando cedemos à azáfama do dia a dia, à falta de propósito na vida e nos forçamos a seguir uma rotina que alimenta esse estado não podemos contar com nada de bom.
É urgente mudar, mas para mudar não basta apenas mudar a alimentação para alimentos sattvicos. É certo que os alimentos sáttvicos são equilibrados e harmoniosos e devem constituir a base da alimentação mas o mais importante é a forma como são cozinhados, quando, como e onde são ingeridos.
A acompanhar a mudança alimentar é importante estabelecer uma rotina diária. Definir uma rotina pode parecer mais desafiante do que é realmente. O que acontece é que as rotinas que alimentam uma ecologia pessoal requer perseverança, disciplina e amor.
Talvez um dos segredos para fazer isso sem sacrifício ou esforço seja criar uma rotina que torne esta ecologia pessoal algo tão natural e prático quanto escovar os dentes.
Desconsiderando a armadilha da mente em julgar a rotina como algo aborrecido e castrador que nos impede de inovar, inventar, diversificar. Mas será que há de facto mais liberdade na cacofonia da diversidade ou na lógica da rotina? Não é difícil perceber a resposta certa, nem tão pouco garantir a sua veracidade. Basta olhar a Natureza. O dia segue a noite, é simples. A semente germina, a planta cresce, nasce uma flor da qual sai um fruto e nele existe uma semente que dará origem a uma nova planta. Independentemente dos anseios e dramas pessoais, a Vida flui em ciclos que se repetem eternamente, num ritmo sobre o qual não temos nenhum controle, mas que nos influencia. Quando entendemos como esses ciclos agem dentro de nós, podemos entrar nessa dança de uma forma mais harmoniosa. E com o tempo, vamos experienciando e observando por nós mesmos os benefícios de fluir nesse ritmo mais natural, do qual uma prática diária faz facilmente parte.
Entretanto, isso não acontece de um dia para o outro. Até porque normalmente, temos muitos hábitos que repetimos automaticamente, por anos e anos, mesmo que saibamos que não nos fazem bem. Afinal, é verdade inegável, é da nossa natureza também seguir o caminho que já trilhamos até porque esse trilho mais do que nos guia, nos identifica e isso torna-nos apegados por medo de deixar para trás uma parte de nós. E de fato, é isso que acontece, importa lembrar que o que se deixa para trás fragmentos daquilo que já não serve (como uma roupa apertada ou tão gasta que já não serve o propósito).
O truque é não focar no corte dos hábitos antigos, mas criar novos, que gerem mais espaço, luz e discernimento para depois abandonar o que não nos serve mais.
No Ayurveda esta rotina tem o nome de Dinacharya. Esta segue uma lógica, e é dividida por fases segundo o Dosha que predomina em cada uma.
O Ayurveda diz que devemos acordar com o nascer do sol, equilibrando a tendência Kapha dessa hora. A primeira coisa a fazer quando despertamos é agradecer. Parece simples, mas quantos dias começamos pensando no que temos que fazer, nos problemas do dia anterior ou resistindo a acordar? Estamos vivos e não há nada melhor que isso. Um dia novo começa e com ele se acercam milhões de possibilidades de encontros, experiências, vivências e aprendizados que não podemos imaginar, por muito previsível que nos pareça o quotidiano.
Quando nos levantamos, devemos começar nas tarefas de eliminação resultante do metabolismo da noite. Para isso a primeira coisa que deves fazer é tomar um desjejum liquido (no teu caso sumo de aipo ou chá de gengibre) para hidratar o corpo, eliminar toxinas e acordar o Agni, o fogo digestivo. depois um pouco de exercício (para ti 10-15m) e logo sentirás vontade de iniciar as eliminações matinais, essencial para começarmos o dia renovados.
SUGESTÃO DE DESJEJUM
– chá de hortelã ou apenas água morna
Das 6h ás 10h da manhã é a hora Kapha, que traz consigo as qualidades deste Dosha, que é pesado, lento, frio, suave e pegajoso. Quando aumentamos esses atributos, dormindo, comendo alimentos frios e doces, como iogurte e pão, o que acontece é que os reforçamos, levando ao seu agravo e gerando desequilíbrios como sensação de peso, produção de muco ou náuseas. A ideia de seguir o Dinacharya é exatamente equilibrar a tendência natural de cada fase do dia, para que nenhum Dosha se agrave.
SUGESTÃO DA PRIMEIRA REFEIÇÃO DA MANHÃ E POSSIVELMENTE PARA UM LANCHE A MEIO DA TARDE
– Fruta madura ou fruta cozidas com cardamomo, anis e funcho e Passas de Uva
SUGESTÃO DE ALMOÇO
– Antes das 13:00, assim que surja a fome e que seja completo para trazer sensação de satisfação.
Sopa OU prato.
Acompanhar com infusão de gengibre ou hortelã.
Terminar com café
LANCHE
– Chá, cevada ou sumo de fruta espremido na hora
À noite, um jantar leve facilita o sono e o descanso, não devendo ser feito depois das 20h da noite. Também os sentidos devem ser nutridos com impressões leves.
JANTAR
– Creme de legumes ou arroz de vegetais ou legumes salteados.
A partir das 22h é de novo o horário Pitta. É tempo de oficialmente deixar para trás tudo o que pertence ao dia e tomar um banho para purificar o corpo e mente.
Estas não são regras fixas, mas sugestões que podes seguir, pôr à prova e experienciar. Isso é Ayurveda, isso é ciência da Vida: estar presente, atento àquilo que acontece com o corpo e a mente. Aos poucos, a sintonia com o ritmo natural acontece assim como a libertação das reações automáticas resultantes dos desejos e aversões. Rompem-se padrões de comportamento instalados por anos. E através da observação, e experiência percebemos que entrar nessa dança é mais fácil do que aprender salsa. Talvez menos divertido mas altamente compensador e um desafio constante, uma dança que não tem perfeição ou fim, um exercício de aceitação da inquestionável impermanência da Vida.
Fundadora do método BmQ
Sócia e Formadora da AMAYUR – Associação Portuguesa de Medicina Ayurveda (amayur.org)
Formadora reconhecida pela YOGA ALLIANCE
Terapeuta Ayurveda Sénior
Doula Ayurveda
Professora Sénior de Yoga