Aprendiz de Yogui
Já se sentiram tão assoberbados com o dia-a-dia que ficaram totalmente agitados, disparando ‘balas’ para todos os cantos e esquinas, só depois reparando onde acertaram?
E quando olham para trás e veem o que fizeram, sentem-se mal porque era completamente desnecessário ter aquela atitude e chega alguém e faz um reparo à situação passada e ficam ainda mais irados e volta a correr mal. E isto continua, neste registo, até que há um ‘iluminado’, sim, porque há sempre um destes à nossa volta, que diz: ‘Devias era fazer uma meditaçãozita, sempre ficavas mais calmo!’ Se já estávamos prestes a partir para a Lua, sem foguetão, tripulação ou fato espacial, nesse momento é: ai! E é aí que percebemos que estamos mesmo mal. Que temos de arranjar uma maneira qualquer de nos despirmos de todo e qualquer papel que desempenhamos e ficarmos só nós. ‘Talvez a meditação possa, de facto, ajudar!’, pensamos. ‘E não deve ser assim tão difícil, há montes de coisas na net sobre o assunto.’ Pois sim….
Eu procurei e encontrei! Agora, tenho de dizer que fácil não é. Até poderia rir se não achasse que era uma situação com potencial de tragédia grega.
Este fim de semana, na continuação da minha busca pelo conhecimento junto dos meus professores, foi dedicado ao desenvolvimento de técnicas que permitem meditar e à meditação.
Sábado à tarde foi-nos dado a conhecer a técnica de Antar Mouna, uma técnica que nos permite afastarmo-nos da nossa mente. Ficar, ou será ser silêncio? Foi-nos pedido que nos deitássemos confortavelmente, que puséssemos uma manta em cima de nós para não sentirmos o frio que se instalaria e eu fiquei maravilhada. ‘Ai, que bom! Relaxamento, é mesmo o que estou a precisar’. A professora começa a indução, oiço atentamente e aí é que são elas! O coração dispara como se estivesse frente a frente com um leão prestes a atacar. O silêncio dentro da minha cabeça é ensurdecedor. Uma autêntica viagem dantesca pelo espaço que é a minha mente. Uma sensação de vou sair do meu corpo, temperada com um ‘Nem penses nisso, Ana Catarina! Tens é que fugir daqui! Foge, foge, foge a toda a velocidade!’ Fez-me lembrar quando tive o meu segundo filho e me virei para a enfermeira, que ficou boquiaberta, e lhe disse: ‘Deixe-me ir embora! Fique cá você a fazer o parto, mas eu tenho de sair daqui!’ E nessa altura, ri de tão patética que era a minha situação. Antes e agora! E deixei-me ficar e absorver o que me estava a ser dado. Apesar dos conflitos internos que o silêncio traz, permiti-me afastar-me um pouco deles, só um pouco, porque estão tão colados a mim que parecem lapas, e ficar em silêncio, usufruindo deste na sua plenitude.
Após este silêncio, fizemos uma meditação com o professor. Desta vez sentada, com a manta em cima de mim, que eu estava gelada da experiência anterior. Consegui, com mais facilidade e acho até que com certo alívio, olhar para os barulhos da minha mente e dizer-lhes: ‘Já sei que estão aí, mas eu não tenho vontade de me juntar a vocês. Fiquem aí, façam a vossa viagem e eu fico só aqui!’ Correu bem melhor. A sensação de ser só eu, de não ir em nenhum dos ‘barcos’ que passavam carregados de listas, situações e pessoas é plena de significado, empoderando-me de mim mesma. No final da nossa aula, sentia-me não só gelada como um calipo, mas calma, capaz e esgotada. Há já muito tempo que não dormia a sesta, mas este sábado aconteceu e, caso não me tivessem acordado para jantar, tinha sido direto até às 5:30 de Domingo. O que é que isto quer dizer? Não sei! Sei que me soube bem! Sei também que vou ouvir a gravação desse sábado e vou fazer de novo. O que irei sentir? Depende, se realmente já me consigo afastar das pessoas que sou no dia a dia.
No domingo… Eu disse que foi o fim de semana dedicado a isto, não disse? Cheguei uns minutos atrasada à aula e não ouvi toda a explicação do que iríamos fazer. Vi os colegas preparados e pensei: ‘Boa, meditação novamente!’ agarrei na mantinha, já aprendi qualquer coisita do dia anterior, sentei-me e vamos lá!
Pelo amor de Deus!!!!! Quem é que consegue ficar quase 1 hora sentada, sem se mexer, ao mesmo tempo que aceita os pensamentos, listas, etc que aparecem, mas não se deixa ir com eles?
Lá estávamos nós, guiados pelo professor, e de repente: ‘Ai, que dor na coluna! Tenho que me ajeitar.’ E no segundo que o faço, oiço do outro lado um calmo ‘Não mexe!’. ‘Ups! Concentra-te! Respira para a dor! Tu consegues!’ mais um bocado e ‘Ai, a minha perna esquerda está a ficar dormente! Só mexê-la um bocadinho para aqui… Ah, muito melhor!’ do outro lado: ‘Não mexe!’. Dói o pescoço, ‘Não mexe!’; Dói a coluna novamente ‘Não mexe!’; Comichão na ponta do nariz ‘Não mexe!’; Dói a unha do dedo grande do pé direito, ‘Não mexe!’; Perna direita fria, dormente, com a sensação de estar o dobro do tamanho. ‘NÃO MEXE!’ Acaba a ‘revisão’ do corpo e eu penso: ‘Pronto, já está! É super difícil, mas já acabou!’ Pois sim… Logo de seguida, o professor diz ‘Visualiza, mentalmente, o topo da cabeça!’ ‘Socorro! Outra vez, não!’. Chega ao fim e volta ao início. Simplesmente, ‘Não mexe’! Ao menos é uma variação do ‘Salta, deita, rebola, pede biscoito’ do dia-a-dia. Às páginas tantas, qual concentração, qual carapuça! Eu já só pensava ‘Não mexe, o raio! Se eu ficar assim muito mais tempo vou cair dura no chão que nem tronco de árvore. Vai saltar-me a perna direita, de certeza! Que neeeervoooos!!!’ Eu já chamava por todos os santos e demónios quando, finalmente, o professor acabou o Vipasana.
Hoje, olhando para todas as experiências do fim de semana pergunto: Porque é que foi tão difícil concentrar-me? Ficar? Só ficar?
Talvez, porque o que nos leva a desistir de tudo o que é difícil é o apercebemo-nos que temos de lidar com os nossos monstros, conhecê-los, dizer-lhes ‘Olá!’ e aprender a gostar deles. Não sei qual é a resposta certa, sei que estou para ficar e só me resta dizer: ‘Obrigada pela oportunidade!’