Escolher ser mãe
Há cerca de dois anos, comecei seriamente a pensar em ter filhos. A relação com o meu companheiro estava mais segura e de boa saúde, e como tudo na vida, tinha necessidade de se expandir. A chegada dos 35 anos também estava iminente e apesar de conscientemente tentar não ceder a uma pressão da sociedade (que sempre me disse que a partir desta idade é mais difícil), senti me suavemente empurrada para a questão de ser mãe.
Por essa mesma altura, estava empenhada no ativismo ambiental. Desde pequena que me foi transmitida a preocupação com o ambiente. Ouvia a minha mãe falar de encontros ambientais, participei num clube do ambiente na escola (encabeçado pela minha mãe), e vi-a a lavar e a secar pacientemente sacos de plástico para serem reusados. Apesar de ter sido sempre uma questão presente em mim, procuro ainda hoje uma forma de agir sobre ela.
Há cerca de três anos, essa forma era participar em protestos, daquele sonoros, que berram, e que nos dão a plena consciência do quão difícil é uma mudança de paradigma. Em Washington DC, onde vivia, ajudei a preparar e executar protestos de rua que bloquearam o trânsito na esperança de sermos ouvidos. A consciência da urgência em adotarmos medidas drásticas de combate ao aquecimento global era a nossa força.
O conhecimento científico é claro, se não agirmos drasticamente agora para abrandar o aquecimento global, veremos cidades debaixo de água, ondas de calor mortíferas, tempestades devastadoras, secas e a extinção de milhões de espécies.
E porque não agimos enquanto sociedade para evitar tudo isto? Ou pelo menos, abrandar? Não sei. Talvez a visão do apocalipse seja demais para a nossa compreensão e consequente ação. Talvez a velha história da rã que não sai da panela. Talvez o dia a dia seja já demasiado sufocante e castrador para muitos.
A verdade é que nas várias ações de rua em que participava era claro o empenho de poucos e a inércia de muitos. Por muito empenhados que fossemos, por muito que puséssemos o nosso coração naquelas palavras de ordem, os protestos deixavam-me um sabor amargo pela sensação de que eram inúteis, que caiam no esquecimento, que nunca tinham verdadeira consequência.
E eis que me deparei com o dilema: estou pronta para pôr um filho num mundo em que a lógica me diz que está condenado? Tenho medo da culpa que poderei sentir quando o meu filho, já adulto, se deparar com um mundo arruinado. Lidar com a culpa tem sido um dos meus maiores desafios como mãe. Se já me sinto culpada com coisas pequenas, como esquecer de lhe dar as vitaminas, tenho medo de como me poderei sentir com o sofrimento dele face a um mundo fustigado por calamidades contínuas e pela violência que lhe virá associada.
Então porque decidi no final ter o meu Gabriel? Não sei. Costumo ser daqueles seres irritantes que têm por hábito oferecer respostas e soluções para tudo. Mas neste caso…não sei. Terá sido instinto? Otimismo? Incapacidade para imaginar uma vida sem filhos? Ou simples teimosia? Talvez. Sei que não fui capaz de abdicar desta experiência. Houve qualquer coisa dentro de mim que falou mais alto.
O Gabriel tem agora 10 meses. Na loucura do pós-parto afastei me destas questões, que só agora estão a retornar. Uma coisa aprendi, os filhos são uma força enorme para nos fazer mudar. Com ele começo de novo e tenho a oportunidade de deixar para trás hábitos que não me servem mais. Além da consciência diária que ele aprende através dos nossos exemplos. Li em tempos que um dos argumentos a favor de ter filhos face à calamidade ambiental era precisamente a certeza que os pais tudo fariam para dar um futuro para os filhos. Hoje não duvido desta premissa, e acredito nesse amor como uma força capaz de mudar o mundo. Resta a esperança e a consciência diária de que o Gabriel aprende comigo o que significa não desistir.
_________
Palavras de Laura Bastos que mais do que aluna BmQ é uma amiga de coração cheio e entregue ❤️
Acompanhamento Belly Love – Pré e Pós Parto