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Escolher ser mãe

By | BELLY LOVE

Escolher ser mãe

Há cerca de dois anos, comecei seriamente a pensar em ter filhos. A relação com o meu companheiro estava mais segura e de boa saúde, e como tudo na vida, tinha necessidade de se expandir. A chegada dos 35 anos também estava iminente e apesar de conscientemente tentar não ceder a uma pressão da sociedade (que sempre me disse que a partir desta idade é mais difícil), senti me suavemente empurrada para a questão de ser mãe.

Por essa mesma altura, estava empenhada no ativismo ambiental. Desde pequena que me foi transmitida a preocupação com o ambiente. Ouvia a minha mãe falar de encontros ambientais, participei num clube do ambiente na escola (encabeçado pela minha mãe), e vi-a a lavar e a secar pacientemente sacos de plástico para serem reusados. Apesar de ter sido sempre uma questão presente em mim, procuro ainda hoje uma forma de agir sobre ela.

Há cerca de três anos, essa forma era participar em protestos, daquele sonoros, que berram, e que nos dão a plena consciência do quão difícil é uma mudança de paradigma. Em Washington DC, onde vivia, ajudei a preparar e executar protestos de rua que bloquearam o trânsito na esperança de sermos ouvidos. A consciência da urgência em adotarmos medidas drásticas de combate ao aquecimento global era a nossa força.

O conhecimento científico é claro, se não agirmos drasticamente agora para abrandar o aquecimento global, veremos cidades debaixo de água, ondas de calor mortíferas, tempestades devastadoras, secas e a extinção de milhões de espécies.

E porque não agimos enquanto sociedade para evitar tudo isto? Ou pelo menos, abrandar? Não sei. Talvez a visão do apocalipse seja demais para a nossa compreensão e consequente ação. Talvez a velha história da rã que não sai da panela. Talvez o dia a dia seja já demasiado sufocante e castrador para muitos.

A verdade é que nas várias ações de rua em que participava era claro o empenho de poucos e a inércia de muitos. Por muito empenhados que fossemos, por muito que puséssemos o nosso coração naquelas palavras de ordem, os protestos deixavam-me um sabor amargo pela sensação de que eram inúteis, que caiam no esquecimento, que nunca tinham verdadeira consequência.

E eis que me deparei com o dilema: estou pronta para pôr um filho num mundo em que a lógica me diz que está condenado? Tenho medo da culpa que poderei sentir quando o meu filho, já adulto, se deparar com um mundo arruinado. Lidar com a culpa tem sido um dos meus maiores desafios como mãe. Se já me sinto culpada com coisas pequenas, como esquecer de lhe dar as vitaminas, tenho medo de como me poderei sentir com o sofrimento dele face a um mundo fustigado por calamidades contínuas e pela violência que lhe virá associada.

Então porque decidi no final ter o meu Gabriel? Não sei. Costumo ser daqueles seres irritantes que têm por hábito oferecer respostas e soluções para tudo. Mas neste caso…não sei. Terá sido instinto? Otimismo? Incapacidade para imaginar uma vida sem filhos? Ou simples teimosia? Talvez. Sei que não fui capaz de abdicar desta experiência. Houve qualquer coisa dentro de mim que falou mais alto.

O Gabriel tem agora 10 meses. Na loucura do pós-parto afastei me destas questões, que só agora estão a retornar. Uma coisa aprendi, os filhos são uma força enorme para nos fazer mudar. Com ele começo de novo e tenho a oportunidade de deixar para trás hábitos que não me servem mais. Além da consciência diária que ele aprende através dos nossos exemplos. Li em tempos que um dos argumentos a favor de ter filhos face à calamidade ambiental era precisamente a certeza que os pais tudo fariam para dar um futuro para os filhos. Hoje não duvido desta premissa, e acredito nesse amor como uma força capaz de mudar o mundo. Resta a esperança e a consciência diária de que o Gabriel aprende comigo o que significa não desistir.

 

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Palavras de Laura Bastos que mais do que aluna BmQ é uma amiga de coração cheio e entregue ❤️
Acompanhamento Belly Love – Pré e Pós Parto

BELLY LOVE – F de Filho… Dedicado aos meus pontos finais

By | BELLY LOVE
F de FILHO…
Dedicado aos meus pontos finais

Na maternidade muito se fala do, sobre, para o M de Mãe e por isso decidimos dedicar um artigo ao P de Pai.

Mas não existe um Pai e uma Mãe sem um filho e por isso faz todo o sentido publicar um texto com F de Filho que é também o F de Família que dá sentido às outras letras.

Acredito que há uma enorme diferença entre uma família com e sem filhos. Não é uma questão de Ser ou não Ser, de melhor ou pior, apenas de ser diferente. E se existe uma Mãe e um Pai existe seguramente um Filho/a – mesmo nas situações de colo vazio e a essas Mães e Pais o meu sincero abraço. Mas apesar da experiência de todos no papel de filhos, a falta de comunicação sobre a experiência seja entre filhos, irmãos, Pais, família e amigos é inegável. O que é afinal F de Filho?

F DE FILHO E DE FRUSTRAÇÃO

Quem nunca sentiu, enquanto filho ou filha, a frustração de não poder ser o que queria? E quem, no papel de pai ou mãe, não se sentiu frustrado por idealizar, sonhar e imaginar determinadas metas para o filho alcançar? Pior do que a frustração que sentem é passarem-na para os descendentes, criando neles um vazio fruto de expectativas que não são suas.


F DE FILHO E DE FELICITAÇÕES

Ser filho é, sem dúvida, esperar felicitações e fazer birras quando elas não chegam. Ser filho é receber palmas pelo arroto no fim da refeição, é receber um beijo pelo pum sonoro depois de 2 horas infernais de cólicas, é receber um elogio por cada cócó e um chorrilho de mimos depois de dar o primeiro passo.

F DE FILHO E DE FUTURO

Ser Filho é ter a capacidade, o dever e o direito de aprender, filtrar e seguir para formar a própria família. Ter de ensinar os Pais a serem Pais depende quase que exclusivamente dos filhos porque não há livro, filme, aconselhamento ou experiência que substitua o papel de um filho na educação de uma Mãe ou de um Pai a desempenhar os respectivos papéis. Ser filho é ensinar os Pais a pensarem sempre no futuro, a preverem o impossível e a anteciparem resultados.

F DE FILHO E DE FIDELIDADE

Ser filho é um papel desafiante principalmente no que diz respeito à fidelidade. Quantas vezes, enquanto filhos, não quisemos trocar de Mãe, de Pai, de gostos e de casa? O tempo possivelmente ensina que essas vontades foram caprichos e injustiças, e encarrega-se de ensinar a ser fiel, a ser grato e a valorizar.

F DE FILHO DE FINAL

Ser filho é ser o ponto final de um filho anterior, fazendo de filhos futuros Pais e o final ser todo um recomeço.

(Dedicado aos meus pontos finais.)

Lara Lima
Fundadora do método BMQ, formadora da AMAYUR
Formadora reconhecida pela YOGA ALLIANCE
Terapeuta Ayurveda Sénior
Professora Sénior de Yoga.

    BELLY LOVE – P DE PAI… E de princípio

    By | BELLY LOVE
    P DE PAI…
    E de princípio 

    Para cada M de Mãe existe um P de Pai, esteja ele associado ou não à mesma morada. Ser Pai não deve ser tarefa fácil. Reflicto muitas vezes sobre este tema com grávidas com quem trabalho, e confronto-as com alguns desafios que para as Mães são tão desconhecidos como para os Pais a sensação de receber um pontapé de dentro para fora. Vejamos alguns P de Pais que passam despercebidos mas que fazem olhar com outros olhos, e talvez um pouco mais de compreensão, para o P de Pai.

    P DE PAI E DE PREMATURO

    Esta é a primeira situação com que um Pai se depara. Ainda mal nasceu como Pai e já é esperado que se comporte como um a sério (se é que existem Pais a brincar). Para as Mães é fácil perceber que a vida vai mudar desde o momento em que um par de células se permite multiplicar naquele que até então foi um ventre unipessoal, mas será assim para os Pais? Seguramente que não. Um Pai é chamado de Pai sem que para ele nada mude além dos tracinhos no teste de gravidez e a bomba hormonal em que se tornou a companheira. Não deve ser fácil ser o que ainda não se é. E reagir a comentários como: Então, que tal a nova vida de Pai?, Tu não sentes nada? ou Como é possível não estares sempre a pensar nele?

    P DE PAI E DE PARTEIRO

    É um assunto delicado, principalmente para mim que como doula Ayurveda. Questiono-me sobre por que é que a sociedade espera que o Pai tenha consciência do que fazer para ajudar no trabalho de parto? E por que é que a sociedade médica espera que o Pai não ajude em nada? Numa sociedade em que o papel do Pai é reivindicado como um direito, e exigência materna, é urgente criar mais cursos de Preparação para o Parto para os Pais – eu só conheço o Super Pais, do www.bmqbylaralima.com. É preciso que mais Pais também queiram frequentar os cursos e entenderem o papel decisivo que podem ter na concretização de um parto suave. Estar ao lado da Mãe é mais do que dar a mão, dizer para respirar ou marcar presença.

    P DE PAI E DE PURGATÓRIO

    Se o Purgatório é um lugar entre o Céu e o Inferno, acredito que esse é o lugar onde a maior parte dos Pais se encontra naquelas horas marcadas pelo relógio da sala de parto. Um lugar onde sentem a intemporalidade do Inferno, ao verem as suas amadas a sofrerem para trazerem o bebé ao Mundo, e ao mesmo tempo aguardarem pelo Céu, aquele momento prometido em que ouvem: Parabéns, aqui está o seu bebé, perfeito e saudável! Às vezes faço o exercício de me imaginar como espectadora dos meus partos, sem poder fazer nada a não ser esperar que a coisa se dê. Horas infindáveis em que tenho de estar acordada, a apoiar, sem fazer ideia de como se sente o eu que está ali a sentir aquelas dores incríveis.

    P DE PAI E DE:

    • PERSEVERANÇA, porque mantém o seu amor de forma inabalável apesar de, aparentemente, a Mãe ser a solução para todos os lamentos e dores;
    • PRESCINDIR, porque o Pai prescinde de protagonismo mesmo quando também ele sofreu durante horas na expectativa da Mãe e filho estarem bem depois de horas de esforço;
    • PARADIGMA, quando naqueles minutos após o nascimento tem de decidir se fica com a Mãe ou acompanha o bebé quando vai ser avaliado pelo pediatra;
    • PRENDADO, porque tem de aprender a dar banho, mudar a fralda e dar a papa mesmo nunca tendo treinado para isso na infância;
    • PRECONCEITO, quando decide ficar em casa em vez de ir trabalhar para tomar conta do filho;
    • PRESCINDÍVEL, por ser Imprescindível;
    • PROTAGONISTA, Pai só há um;
    • PRETERIDO muitas vezes às Avós para tomar conta do pequeno apesar de, como a Mãe, ninguém ser capaz de o fazer melhor;

    P de Pai e de Parabéns a todos os que assumem o Papel de Pai que é um papel fundamental e de apoio incondicional à Mãe, mesmo antes de o bebé nascer. Parabéns às Mães que incentivam e treinam os Pais desde o primeiro dia porque, como em qualquer parceria, também Pai e Mãe têm papéis e acordos que devem ser definidos antes e redefinidos a cada momento de forma a permitirem que os envolvidos brilhem diante da criança a quem chamam de Filho/a.

    Lara Lima
    Fundadora do método BMQ, formadora da AMAYUR
    Formadora reconhecida pela YOGA ALLIANCE
    Terapeuta Ayurveda Sénior
    Professora Sénior de Yoga.

      BELLY LOVE | Ser mãe…em confinamento

      By | BELLY LOVE

      SER MÃE… EM CONFINAMENTO
      A partilha de uma experiência

      M de Militante

      Os primeiros bebés fruto do confinamento estão agora com um ano e ao observar as Mamãs que acompanhei percebo a grande diferença que existe entre o confinamento natural do pós parto e o confinamento forçado a que foram obrigadas. É qualquer coisa próximo do serviço militar obrigatório (só que para mulheres). Para umas é algo natural que lembram entre gargalhadas para outras um momento altamente traumatizante do ingresso numa vida adulta. Creio que a questão passa efectivamente pela liberdade ou não de cumprir o serviço militar em regime de confinamento voluntário ou obrigatório.

      Ser Mãe é como ser militante de um trabalho não remunerado a tempo inteiro que nenhum gestor de recursos humanos consegue vender por ser simplesmente surreal. É um trabalho que não tem hora para começar nem hora para terminar, um trabalho que não tira dias de férias, folga, não paga horas extraordinárias e cujo “layoff” não se conhece. É um trabalho de multitasking, multiforce e não remunerado, sem ordem ou sindicato, sem carteira profissional, sem descontos para o Estado, sem Segurança Social e que transgride todas as leis laborais. Ainda assim é um trabalho para o qual grande parte das mulheres se candidata de forma voluntária e entusiasta. Porquê? Porque existe algo de militante na maternidade.

      Uma mulher alista-se como Mãe, mesmos antes de saber para o que vai realmente. Assim como o militante que vai para os comandos ou tropa de elite sem saber muito bem do que se trata especificamente. O parto é a praxe, o que acontece após o parto já é formação em tropa de elite capaz de resistir às formas mais antigas e reconhecidas de tortura, como privação do sono, greves de fome e exploração do corpo, e ainda sorrir. Após se voluntariar, a Mãe, como uma verdadeira militante sem tempo mínimo de recruta, e no ritmo frenético de combate vive esta militância idealista sem desertar.

      Tal qual o militante mais devoto, a Mãe entrega-se de forma absoluta vivendo intensamente este papel acima de qualquer outro, sem ceder a subornos ou prazeres e punindo-se com uma culpa acutilante qualquer momento que possa desvirtuar o sacrifício por esta missão. Tudo por um orgulho à farda que veste quando desfila a bandeira/bebé perante os olhares “invejosos”, que já foram o seu, e que a fazem sentir a pessoa mais importante e capaz do Mundo (até alguma Mãe de bancada abrir a boca e dar os seus palpites, tipo “spoiler”).

      O que mantém as Mães livres da loucura são os “compromissos” inadiáveis como o cabeleireiro, o chá com as amigas, a ida às compras, as voltas no parque para a dose extra de vitamina D do bebé, as voltas no shopping para comprar algo essencial, de que já não se lembra, enfim fazer qualquer uma das dezenas de coisas que combinam com uma selfie de licença de maternidade. Sabemos que essa pausa idílica eternizada numa fotografia é isso mesmo, um breve segundo de pausa de um caos maior. Mas a verdade é que as Mães pré pandemia tinham as fotos, as ilusões, a vida online cor-de-rosa que compraram, apesar da publicidade enganosa do que é o pós-parto, e que estavam determinadas a passar em diante como canta a tradição.

      A verdade sabemos todas. As Mães vivem confinadas nos primeiros meses do pós parto. Depois deste período existe uma espécie de levantamento do confinamento obrigatório mas apenas para saídas justificadas ao local de trabalho, compras e farmácia (mas nunca, jamais para momentos de lazer). Sabemos que o confinamento da mulher ao papel de Mãe começa quando nos apresentamos ao serviço para este cargo que não termina e que sabemos só abrandar quando chegar o dia da promoção… ser Avó. Ainda assim a vivência actual da maternidade apesar de ainda em confinamento trata de um confinamento num contexto de pandemia que torna o igual diferente. O confinamento da maternidade é das Mães por direito, um confinamento voluntário que conferia em si super poderes. Actualmente é obrigatório e deixou de ser nosso para ser de todos. Ora isto é como tornar as tropas especiais em polícias municipais.

      Quem vai agora olhar com “inveja” para a nossa patente/bebé? Onde estão as “selfies” nos jardins, parques, shoppings, pastelarias, museus? Como vamos agora disputar gracinhas, feitos e avanços dos nossos mais que tudo? são estas questões práticas que parecem fúteis que fazem toda a diferença na militância.

      Lara Lima
      Fundadora do método BMQ, formadora da AMAYUR
      Formadora reconhecida pela YOGA ALLIANCE
      Terapeuta Ayurveda Sénior
      Professora Sénior de Yoga.

        BELLY LOVE | M de Mulher, eu?

        By | BELLY LOVE

        O INÍCIO DE UM CAMINHO DE EMPODERAMENTO
        A PARTILHA DE UMA EXPERIÊNCIA QUE NOS PREPARA PARA SER… EU

        M de Mulher, eu?

        Quero começar este texto reivindicando, perante as minhas semelhantes, o direito de Ser Mulher algo que sempre defendi no meu trabalho com gestantes mas que muitas vezes me frustrou sem perceber a dificuldade das Mães em se posicionarem como mulheres quando o bebé nasce, quando ele cresce e até quando ele mesmo já é Mãe ou Pai.

        Por outro lado, quero deixar registado um sincero pedido de desculpas a todas as Mães que “critiquei” por me sentir frustrada em não as conseguir empedrar como mulheres quando achei que era a altura (quanta pretensão). Três filhos depois percebo finalmente o desafio mas felizmente sem resignação. Sou Mãe sim, mas também sou Mulher! (Apesar de poder demorar algum tempo até o perceber.)

        Quero ter a liberdade de me assumir como Mulher sem me sentir julgada e condenada no papel de Mãe. Quero ter a liberdade de me assumir como Mulher sem necessidade de pintar os lábios de vermelho ou lutar por direitos e deveres. Mas, acima de tudo quero mostrar a ti Mãe/Mulher que ser Mãe é apenas um papel do Ser Mulher. Um papel que podes ou não assumir, desejar ou realizar. Talvez seja o mais importante, talvez não. É um papel à tua medida e a tua medida é a única que te deveria importar pois para os teus filhos serás sempre a melhor Mãe do Mundo.  Agora Mulher, ter a liberdade de ser mulher é algo que devias conquistar essencialmente para ti, completamente dissociado de qualquer paradigma externo.

        Quero também mostrar a ti, único Pai que me lê, que a Mãe dos teus filhos continua a ser Mulher, e se ela não o vê, fá-la sentir-se de novo Mulher oferecendo-lhe tempo, atenção e oportunidade para o Ser.

        Para mim que sou Mãe, é fácil compreender que quando o dia termina a sensação é que não se fez o suficiente e que cinco minutos em silêncio debaixo do chuveiro são fundamentais para encontrar alguma paz. Juro que entendo o dilema de tirar um fim de semana para descansar sozinha, ir a um retiro, fazer um curso e a angústia de não ser a Mãe perfeita (?!) por estar a praticar yoga ou meditação em vez de os ter ido buscar mais cedo à escola ou não ter a casa arrumada.

        Como Mãe conheço a realidade dos bastidores e por isso te digo sem receio que no processo de Maternidade para além de amor, existe também o medo, a tristeza, a renúncia e os dias negros. Nem só de luz e sorrisos é feita a maternidade apesar de todos te quererem convencer disso e ninguém falar do outro lado abertamente.

        Seja nos grupos de facebook, no chá de bebé, nas conversas com amigas ou na noite de Natal, quando estás grávida todos te falam do amor incondicional e imensurável que irás sentir (amor esse que vem, não de imediato como te fazem crer mas a seu tempo, no teu tempo sem que te tenhas de sentir culpada ou forçada a senti-lo antes da sua chegada) e da renúncia normal de tomar um banho na hora desejada, de deitar e dormir quando e como quiseres, ires e vires de onde e quando quiseres. Desde o momento em que engravidas a sociedade faz-te crer que é normal o M de Mulher se doar por completo ao M de Mãe e que, ainda que a Mulher se perca nesse processo, ser Mãe faz tudo valer a pena deitando por terra qualquer argumento que possa vir à conversa se por vezes queremos reencontrar a Mulher que existe em nós.

        Na verdade aposto que existe em cada Mãe uma vozinha que já chorou baixinho a incerteza de ter tomado a decisão certa em dizer “sim” à maternidade e ao mesmo tempo um vozeirão familiar a berrar – “tens de aguentar agora que escolheste ser Mãe”, e no meio tu, Mulher.

        É certo que ser Mãe passa pela fase da renúncia da vida antiga, processo que varia de Mulher para Mulher, mas uma renúncia à vida antiga não é uma renúncia à Mulher e muito menos à Vida. A Mulher agora Mãe precisa aprender a renascer como Mulher Mãe e não Mulher versus Mãe.

        Neste renascimento da Mulher existem coisas de Mãe que vão ficar na vida da Mulher, que fazem parte do papel Mãe:

        • o “trabalho” não remunerado, chegando a ser um trabalho ingrato, que começa no momento em que acordas, e às vezes, nem sequer termina quando vais dormir;
        • as tarefas pendentes que apesar de iniciadas raramente são terminadas graças ao constante desvio de atenção;
        • os momentos de descanso quando estás por conta própria em casa são sonhos não a realidade, especialmente se falamos em fim-de-semana ou férias;
        • a lista interminável de tarefas num ciclo que nunca tem fim e se renova de dia para dia;
        • o julgamento constante de outros, quanto mais próximos piores, por deixares os teus filhos aos cuidados de outras pessoas para ires trabalhar, descansar, relaxar.
        • o acordar uma hora antes de todos para terminar alguma tarefa inacabada, começar uma tarefa nova ou para ter um tempo em silêncio;
        • o “segundo turno”, depois do trabalho e antes de chegar a casa, pagar as contas, fazer as compras do supermercado, fazer o serviço de lavandaria e claro, o serviço de táxi das crianças;
        • o “terceiro turno” trabalho de uma dona de casa que ao chegar do trabalho a casa ainda faz o jantar, dá banho e jantar aos filhos, e lhes conta histórias na hora de dormir.

        Assim é missão deste artigo te lembrar que neste nascimento da Mãe existem coisas de Mulher que deverão integrar a vida da Mãe, pois fazem parte do Ser Mulher:

        • reclamares um mimo, um beijo, um abraço, um presente e um obrigada;
        • ter hora marcada no cabeleireiro, na esteticista e na manicure porque sim;
        • chorar de amor ou simplesmente de emoção;
        • ser gentil, ser determinada, ser energética, ser ética;
        • cuidar da alimentação e da balança;
        • ter tempo para as amigas, para o cinema e para o bate perna;
        • gostar de namorar e comprar lingerie;
        • não perder um bom desejo de TPM;
        • lutar e acreditar na igualdade de género no trabalho e em casa;

        E acima de tudo lembrar que é normal fazer planos para tudo isto, incluindo os filhos no plano. Sim, ser Mulher é fundamental mas ser Mãe é uma marca registada que deu continuidade à Humanidade e que por isso passa de papel a um modo de ser, um estado de espírito, uma força vital!

        Lara Lima
        Fundadora do método BMQ, formadora da AMAYUR
        Formadora reconhecida pela YOGA ALLIANCE
        Terapeuta Ayurveda Sénior
        Professora Sénior de Yoga.

        BELLY LOVE | O início de um caminho de amor e conflito

        By | BELLY LOVE

        A PARTILHA DE UMA EXPERIÊNCIA QUE NOS PREPARA PARA AMAR

        M de Mãe, a minha ou a tua?

        Há quem diga que ser Mãe nos faz compreender melhor as nossas Mães. Então porque é que de repente ficou tão difícil ser filha, esposa, nora e mãe dos netos?

        Querem a minha opinião? Ser Mãe traz uma parafernália de papéis, regras e coisas que para uma sociedade viciada na acumulação de papéis como a nossa se torna muito difícil de gerir. E, como se aprender a lidar com aquele pequeno Ser não bastasse, que aprender a gerir toda a equipa que nasceu com ele, especialmente quando chega a alturas do ano como o Natal.

        Pois é, quando nasce um pequeno Ser não nasce apenas uma Mãe mas uma explosão de gente, quais Gremlins em contacto com a àgua. Nasce um Pai e mais, nasce não uma mas duas Avós, 2 Avôs e, dependendo da sorte, uma multidão de tios e tias com aspirações a Padrinhos e todas as promoções inerentes a um conjunto de pessoas com um objectivo comum (conquistar um local de destaque na evolução deste novo projecto – o bebé).

        Hoje vamos ficar pelas Avós, as grandes Mães, as Mães das Mães e por isso (dizem elas) as “duas vezes” Mães.

        Ser Mãe é como conquistar o topo da carreira e todos sabemos como é difícil mudar de cargo depois de conquistar o topo, nem que não se trate de uma despromoção mas apenas da reforma.

        Ser Avó é isso. Ser Avó é a reforma das Mães. Mas a reforma tão esperada durante 30 anos não é facilmente aceite quando chega a altura de assinar os papéis e isso torna tudo mais difícil para a recém promovida Mamã que tem agora duas missões: (1) Aprender a Ser Mãe e… pasmem-se, (2) ensinar as Mães a serem Avós. Por isso grito em desespero (qual Mafaldinha inconformada):

        “Há quem diga que ser Mãe nos faz compreender melhor as nossas Mães. Então porque é que ser Avó não faz o mesmo na escala evolutiva?”

        Não se trata aqui do medo de sentir que as avós nos roubam o nosso protagonismo mas sim de as fazer entender que o seu protagonismo é e deve ser agora de Avó e não de Mãe da Mãe, Mãe do Pai, Mãe da cria e muito menos Juíz da Mãe da cria. Não se trata do chocolate que dão ao nosso pequeno Ser, do leite, iogurtes, pão ou bolachas que lhe dão à nossa rebelia mas sim do facto de não o fazerem às escondidas, entre olhares cúmplices, mas de forma descarada confrontando, com uma atitude desafiadora, a nossa decisão de não dar.

        Não, não tenho medo de perder o protagonismo de Mãe quero apenas que ela aceite o seu protagonismo de avó pois cada uma tem seu lugar e seu papel na vida da criança e o meu pequeno Ser não precisa de mais uma Mãe mas sim de duas Avós únicas, afetuosas e inesquecíveis.

        Não se trata de negar ou recusar a importância, a sabedoria, a experiência, o afeto ou o carinho da Avó mas defender e assumir o meu papel de Mãe. Deixar bem claras as funções e as fronteiras de cada papel num acordo que tem de ir para além das intenções e pressupostos. Um acordo entre Mães, realizado de forma honesta e frontal que respeite o papel de cada uma sem que a mais velha, por se considerar mais experiente, queira tomar conta da situação e a mais nova, por se considerar new age não respeite a importância do papel ternurento e cúmplice da avó e a sua experiência e sabedoria. As linhas que desenham este contrato não são óbvias nem tão pouco Universais ou do censo comum. Elas são sim aquilo que funciona para o casal e que deve ficar claro para as avós, independentemente do número de vezes que se tenha de “ler” em voz alta o contrato.

        É importante reconhecer que nos encontramos todos nesta roda de aprendizagens coletivas – nós a aprendermos a ser Mãe do Filho, Esposa do Pai, Filha da Avó, Nora da Avó; elas a aprenderem a ser Mãe do Pai, Mãe da Mãe, Avó do Neto; eles a aprenderem a ser Pai do Filho, Marido da Mãe, Filho da Avó, Genro da Avó. Para que estas aprendizagens sejam transmitidas de forma segura ao pequeno Ser que está a aprender a ser Filho e Neto há que aprender a partilhar tempos e espaços, estar disponível afetivamente para nos entre ajudarmos nestas aprendizagens com delicadeza, respeito e sem desabilitar Pais e Avós permitindo o crescimento destes Papéis com sensibilidade e sem receio de simplesmente Ser.

        Acima de tudo há que aprender a ser Filha da Avó e Avó d@ Net@ e perceber que a relação Mãe e Filha mudou. E no entretanto aprender a fazer isto com a Mãe Sogra de mão dada com o Filho Pai ou… apresentar este artigo ao companheiro e sugerir :

        “Eu faço isto com a minha e tu com a tua, combinado?”

        E se ele não quiser ler? E se ele não quiser agir? E se ele não se importar assim tanto com o que acontece com a relação do seu filho com a sua Mãe? Como deve ser o meu papel de Mãe em relação à Avó Paterna?

        A minha sugestão é sempre a favor da criança. Acredito que quantas mais pessoas amarem os meus filhos e mais eu promover essas relações de amor fraterno maior será o núcleo de protecção e rede de apoio dos meus filhos fazendo-os sentir mais protegidos, nutridos e felizes (inclusive se em alguma altura eu, ou o Pai não podermos estar).

        Por outro lado, muitos Netos que têm o privilégio de ter um dos Avós por perto podem passar mais tempo e de maior qualidade com os que, para além de cuidadores, os amam de forma efectiva como os Pais. E esse papel não tem de ser exclusivo da avó materna uma vez que não restam dúvidas sobre a equanimidade dos sentimentos que os avós maternos e paternos têm pelos seus netos. Assim, independentemente de ser “minha ou tua” é nosso papel enquanto Mães incentivarmos uma relação de respeito e cumplicidade entre os nossos pequenos Seres e ambas as avós pois a avó paterna não é somente a mãe do Pai, mas também a avó dos meus filhos.

        Parece-me que pensar desta forma numa altura como o Natal pode trazer paz no conflito real que acontece assim que a questão “Natal com os meus ou os teus?” se coloca. Até porque se para umas famílias a dúvida tem apenas uns quilómetros de distância, para outras famílias trata-se de um dia de viagem e no fim, o egoísmo resulta num Natal no banco de trás do carro.

        [ Lara Lima ]

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