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DAILY AYURVEDA – Rotinas? Como, Para quê?

By | DAILY AYURVEDA

ROTINAS? COMO, PARA QUÊ?

Quantos ashtags precisas de colocar no teu telemóvel, quantos post it’s precisas de colar no espelho da tua casa de banho, frigorífico e secretária, quantos mais lives, ted talks e blogs tens de seguir, quantos mais livros, blocos de notas e workshops tens de experienciar até te decidires Viver em verdade com aquilo que sabes ser verdade:

A Vida flui quando te responsabilizas por ela.

Somos desde muito cedo uma cadeia de acontecimentos e “puros acasos” como canta o Miguel Araújo na Balada Astral e mostra a nossa sequência de ADN. Está na hora de fazermos a nossa parte e deixar ao “acaso” aquilo que pertence ao tempo e espaço. 

  • Mas o que é isto de nos responsabilizarmos pela vida? 
  • Quem quer ser o capataz de si mesmo? 
  • Em pleno século XXI ainda acreditas que a disciplina prende? 

Não aprendeste nada com Jorge Palma quando afirma “a independência é uma besta que dá cabo do desejo e a liberdade é uma maluca que sabe quanto vale um beijo”?

Em pleno século XXI, após uma pandemia global que privou a humanidade das suas rotinas atirando tanta gente para depressões profundas ainda acreditas que as rotinas são aborrecidas? Não aprendeste nada com o confinamento? 

Em pleno século XXI em que a tua vida é marcada pelo ritmo frenético de um relógio, que já não precisa de ti para trabalhar, numa escravidão sem limite espaço/temporal ainda acreditas que controlas ou és livre em alguma coisa na tua Vida?

Ter rotinas é ter um espaço de liderança e liberdade no planeamento e “execução” da própria vida. É assumir e cuidar de comportamentos que dependem exclusivamente de ti e não de outros, da tua motivação ou vontade. 

Ter rotinas é ter um plano, um foco, uma direcção, uma constante na agitação frenética de um mundo em constante mudança. 

Ter rotinas parece fácil. Parece que não temos porque não queremos mas a verdade é que estabelecer uma agenda diária que inclua tempo para parar e escutar é uma tarefa hérculea. Principalmente antes de se ter um conhecimento Ayurveda que te perceba como indivíduo e adequa as tuas rotinas às tuas idiossincrasias e necessidades.

Estabelecer um Dinacharya, que em sânscrito significa rotina/disciplina diária, implica ter cuidados diários com o corpo físico, mental e energético alinhados com o contexto social, sazonal e familiar estabelecido. 

Praticar todos os dias as rotinas que alimentam uma ecologia pessoal independentemente dos inúmeros eventos que nos parecem levar noutro caminho, requer perseverança, disciplina e amor. Independentemente dos anseios e dramas pessoais, a Vida flui em ciclos que se repetem eternamente, num ritmo sobre o qual não temos nenhum controle, mas que nos influencia. Quando entendemos como esses ciclos agem dentro de nós, podemos entrar nessa dança de uma forma mais harmoniosa. E com o tempo, vamos experienciando e observando por nós mesmos os benefícios de fluir nesse ritmo mais natural, do qual uma prática diária faz parte.

É importante lembrar que disciplina só combina com amor no tempo por isso há que respeitar o tempo necessário à integração da mudança. Ao contrário da maior parte das coisas que acontece neste “fast living”, a mudança de paradigma não acontece de um dia para o outro. Mudanças efectivas requerem tempo.

O truque é não focar no corte dos hábitos antigos, mas pensar em criar novos, que gerem mais espaço, luz e discernimento para depois abandonar o que não nos serve mais (como uma roupa apertada ou tão gasta que já não serve o seu propósito).

Apesar do Ayurveda ser exclusivo de cada Ser e cada momento existe uma lógica global nesta matemática Divina.

O Dinacharya, rotina diária, está totalmente integrada nos ciclos da natureza. Por exemplo, das 6h às 10h da manhã é a hora Kapha, que traz consigo as qualidades deste Dosha, que é pesado, lento, frio, suave e pegajoso.

Quando aumentamos esses atributos, dormindo, comendo alimentos frios e doces, como iogurte e pão, o que acontece é que os reforçamos, levando ao seu agravo e gerando desequilíbrios como sensação de peso, produção de muco ou náuseas.

A ideia de seguir o Dinacharya é exatamente equilibrar a tendência natural de cada fase do dia, para que nenhum Dosha se agrave.

Como fio condutor de uma rotina diária respeitando a ecologia pessoal o Ayurveda defende que devemos acordar com o nascer do sol, equilibrando a tendência Kapha dessa hora. A primeira coisa a fazer quando despertamos é agradecer. Parece simples, mas quantos dias efectivamente acordaste agradecendo a oportunidade que agora se inicia em detrimento de começar o dia pensando nos a fazer, nos problemas do dia anterior ou resistindo a acordar? Estamos vivos e não há nada melhor que isso. Um dia novo começa e com ele se acercam milhões de possibilidades de encontros, experiências, vivências e aprendizagens que não podemos imaginar, por muito previsível que nos pareça o quotidiano.

Quando nos levantamos, devemos começar nas tarefas de eliminação resultante do metabolismo da noite. Para isso a primeira coisa que deves fazer é tomar um desjejum liquido (água morna, sumo de aipo ou chá de gengibre) para hidratar o corpo, eliminar toxinas e despertar o Agni, o fogo digestivo. Depois um pouco de exercício (10-15m) e logo sentirás vontade de iniciar as eliminações matinais, essencial para começar o dia renovado lembrando de  deixar para trás tudo o que pertence ao dia anterior com um banho para purificar o corpo e mente.

Quanto aos horários de ingestão de alimento sólido, respeita a tua fome e não a tua vontade ou hábito de comer e come pouco de manhã, bem à hora de almoço e leve a partir do pôr do sol, lembra que o nosso Agni segue o ritmo do Sol.

Das 14h às 18h é o horário Vata, ótimo para trabalhos mentais e criativos. Das 18h às 22h volta o horário Kapha, e naturalmente um óptimo momento para uma prática espiritual como meditação ou namorar.

À noite, um jantar leve facilita o sono e o descanso, não devendo ser feito depois das 20h da noite. Também os sentidos devem ser nutridos com impressões leves. 

Como falamos anteriormente seria ideal a partir das 20h preparar corpo e mente para descansar, o que pode não ser exequível com as tuas rotinas, mas lembra-te que então também o acordar antes do nascer do sol se tornará desafiante. Facto inegável é que a partir das 22h é de novo o horário Pitta e se mantiveres os estímulos até essa hora, naturalmente vais aumentar atividade nervosa depois (daí muitos testemunhos de gente que diz não conseguir dormir à noite, por ser o período em que se sente mais ativo).

Das 2h às 6h é o horário Vata e não por acaso coincide com o horário em que a maior parte das pessoas que sofre de insónias relata que acorda e já não consegue voltar a dormir. Descanso e sono são necessidades tão importantes quanto a alimentação, por isso ter uma rotina que favorece boa qualidade de ambas é fundamental.

Acima de tudo relembra que estas não são regras fixas, mas sugestões que podes seguir, pôr à prova e experienciar. 

Yoga e Ayurveda não falam de regras mas sim da presença. Estar presente, atento àquilo que acontece com o corpo e a mente.

Aos poucos, vais-te sintonizar com um ritmo natural em vez de seguir apenas desejos e aversões de forma automática, romper padrões de comportamento instalados por anos. E através da observação, descobrir que entrar nessa dança é mais fácil do que aprender salsa, talvez menos divertido mas altamente compensador e um desafio constante, uma dança que não tem perfeição ou fim, um exercício de aceitação da inquestionável impermanência da Vida.

Lara Lima
Fundadora do método BMQ, formadora da AMAYUR
Formadora reconhecida pela YOGA ALLIANCE
Terapeuta Ayurveda Sénior
Professora Sénior de Yoga

DAILY AYURVEDA – Congressos e corpo científico

By | DAILY AYURVEDA

CONGRESSOS E CORPO CIENTÍFICO

Apesar de (re)conhecida como Medicina, pela OMS, existe ainda pouca clareza comum sobre a legitimidade do Ayurveda enquanto sistema médico.

“Como pode um corpo de conhecimento sistematizado pelos antigos Sábios da Índia, e descrito em compêndios com mais de 3000 anos pode ser um sistema actual de prevenção e cura?”

Não obstante à crescente abertura do Ocidente ao Ayurveda, este sistema médico continua a levantar dúvidas e a não ter, pelo menos em Portugal, o reconhecimento médico e estadual que tantos outros Países já integram. Sem embargo à resiliência, resistência e sobrevivência do Ayurveda ao longo dos tempos a verdade é que é duro para quem a pratica profissionalmente não ver reconhecida a sua profissão e muitas vezes ter de defender este conhecimento dos ataques, escrutínios e mutilações constantes por parte de quem jocosamente a declara como magia, mezinhas ou crença popular num momento em que o estado actual de crescente reconhecimento científico só demonstra uma coisa, ser de facto um conhecimento baseado na Verdade da Vida. Só a Verdade pode permanecer firme e incorruptível perante semelhante adversidade (sobre isto podem ler mais no artigo https://www.bmqbylaralima.com/category/daily-ayurveda/).

Actualmente é evidente o aumento de adeptos e corpo científico que validam o conhecimento Ayurveda e o “traduzem” para a linguagem actual trazendo a público a forma de entendimento e suporte necessário à população e cultura moderna. Prova disso é:

  • a crescente literatura publicada sobre o tema, acessível aos vários níveis de público e entendimento
  • a introdução das terapias em clínicas médicas e espaços de bem-estar
  • o crescente número de retiros, cursos e workshops sobre a temática do Ayurveda
  • e, como em qualquer outra disciplina científica, também os encontros e congressos

Os Congressos de Ayurveda são encontros académicos e profissionais sobre vários temas que se relacionam com a prática Ayurveda. Nos últimos anos estes eventos têm sido cada vez mais regulares a uma escala Mundial graças à vasta presença que o Ayurveda tem tido nos cinco Continentes e a ampla validação científica que tem produzido corpo académico cada vez mais forte, estando actualmente integrado em muitos sistemas nacionais de saúde bem como em Universidades por todo o Mundo.

Nos últimos 10 anos o BmQ tem participado regularmente como palestrante em Congressos, desde 2012 no Congresso Mundial de Ayurveda em Pune (India) até ao mais recente já em 2021 no Congresso Internacional de Yoga e Ayurveda no Brasil. Nestes congressos podemos ouvir palestras dos profissionais mais especializados e credenciados, nas mais diversas especialidades, trazendo a público discussões profundas e debates interessantíssimos entre diferentes abordagens sobre temas bem actuais.

Como palestrantes, nestes mesmos Congressos, sentimos a responsabilidade de nos mantermos atualizados no conhecimento bem como na sua aplicação prática sendo cada vez mais a nossa participação baseada na apresentação dos nossos casos e programas.

Este ano o Suddha Yoga e Ayurveda, com o apoio do World Moviment for Yoga and Ayurveda e da International Academy of Ayurved, organizou o 1º Congresso Mundial de Yoga e Ayurveda online, mostrando as possibilidades que sempre existem nos períodos de maior desafio, com 15 dos principais professores de Ayurveda da Índia, alguns dos nomes mais importantes do Yoga e do Ayurveda da Europa, Estados Unidos, Canadá e América Latina e 25 destacados médicos, terapeutas e professores.

Este evento contou com a participação especial de David Frawley (Vamadeva Shastri), Shambhav Chopra, Prof. Subash Ranade, Dr. Prerak Shah, Dr. Gaurang Joshi, entre outros professores da Academia (IAA) tendo o BmQ apresentado o seu Programa de Ecologia Pessoal. – um Programa que integra os Yoga Sutras de Patanjali na prática integrativa de Ayurveda no dia a dia.

Também em Portugal temos assistido ao crescente número de congressos e eventos na área graças ao forte dinamismo da AMAYUR (Associação Portuguesa de Medicina Ayurveda que tem como missão a divulgação, promoção e formação em Medicina Ayurveda em Portugal) e organização anual de um Encontro de Ayurveda onde são convidados palestrantes de todo o Mundo e onde terapeutas e interessados podem participar conhecendo mais sobre este corpo de conhecimento e sua prática nos tempos de hoje, em Portugal. Nestes encontros o BmQ participa regularmente com palestras, workshops e casos clínicos tendo já impulsionado diversas participações de alunos.

É claro este grande empenho académico para compreender o Ayurveda parte de uma grande experiência prática fruto do crescente número de adeptos que a procuram não só como uma abordagem a questões que a medicina moderna não consegue responder como cada vez mais a procura de uma forma mais consciente de estar na vida, agindo antes do tempo.

Lara Lima
Fundadora do método BMQ, formadora da AMAYUR
Formadora reconhecida pela YOGA ALLIANCE
Terapeuta Ayurveda Sénior
Professora Sénior de Yoga

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    DAILY AYURVEDA – História do Ayurveda do além tempo até aqui e agora

    By | DAILY AYURVEDA

    HISTÓRIA DO AYURVEDA
    – DO ALÉM TEMPO ATÉ AQUI E AGORA

    A história do Ayurveda, para além de longa, é mística. Escrevo mística porque está envolta de mistério no que diz respeito à sua origem se tivermos em conta a clareza, certeza e acuidade dos primeiros registos, datados de há cerca de 3500 anos antes de Cristo, nos Vedas. Apesar de haver referência ao conhecimento Ayurveda nos Vedas, nomeadamente Rig Veda, Ajur Veda e Atharva Veda, não existe a descrição deste corpo de conhecimento remetendo-nos para a ideia de que o conhecimento já existia de forma integrada naquela sociedade e cultura. Ora, a integração de um corpo de conhecimento numa cultura não é coisa para acontecer de forma fugaz e leviana, não antigamente pelo menos.

    É inegável que o Ayurveda tem origem em tempos imemoriais, tempos anteriores às dimensões tempo e espaço recentes quando os continentes tinham outros posicionamentos e o tempo se contava de outra forma que não associado ao nascimento de Cristo (até porque faltariam ainda uns milhares de anos para esse acontecimento). Assim, a história não tem registo ou memória da origem do Ayurveda originando um mistério que acabou por contar uma história semelhante a uma manta de retalhos, cheia de silêncios e padrões que não encaixam e que acabam por tornar a sua verdadeira origem pouco clara, diria até oculta. Por isso, na Índia se diz que o Ayurveda teve origem direta do próprio Criador (Brahm) e é considerado eterno, porque ninguém sabe realmente em que época ele ainda não existia. Tudo isso mostra sua longa tradição e a sua profunda ligação com a cultura indiana.
    Porém, se por um lado esse mistério e desordem atrai uns quantos, tantos outros questionam ou reduzem a história do Ayurveda apenas ao que tem registo, desvalorizando o Ayurveda no tempo e espaço, duas dimensões que sustentam o Mundo actual.

    O texto de hoje vem abordar a história do Ayurveda para além das dimensões: tempo, espaço e mundo como o conhecemos; e expor de forma clara a história da Medicina Ayurveda como o sistema médico mais antigo do mundo, pelo menos no que diz respeito ao Mundo como o conhecemos.
    A medicina ayurveda tem provas registadas de ser originária do vale do hindu, na zona agora registada geograficamente como India. Nestes mesmos registos, é referido que o conhecimento descrito, e não escrito, existia há já milhares de anos apesar de ser até então transmitido dentro de uma tradição oral de mestres para discípulos baseado na sabedoria eterna do povo, adquirida a partir de experiência e meditação sobre todos os conhecimentos que pudessem ser úteis à humanidade: engenharia, física, astrologia, biologia, toxicologia, filosofia, teologia, etc..
    Mas temos por missão, neste texto, esclarecer o que já foi concluído pela “ciência”, tratando-se por isso de algo “inquestionável” para a mente da sociedade actual, e não, fazer inferências ou comentários pessoais.
    A verdade é que ninguém sabe ao certo quando se desenvolveu a primeira civilização na India mas estudos actuais asseguram que, a civilização mais antiga de que se tem notícia – Harappa, surgiu por volta de 3000 anos a.C. Ora estamos a falar de uma civilização com saneamento, mercados de rua, termas, casas estruturadas, lugares comuns de lazer e recurso a ervas medicinais muito usadas no ayurveda. O facto desta civilização ser tão evoluída conclui per si que não seria a única nem a mais antiga civilização pelo que é de fácil deduzir que a primeira civilização se terá desenvolvido bem antes.

    Voltemos aos factos, esta cultura dominou o Vale Hindu por talvez 1500 anos até as invasões do povo Ariano, nómades da Ásia Central quem se se atribui a escritura dos Vedas. Apesar do Ayurveda ser referenciado no Rio Veda (o mais antigo dos vedas), Sama Veda, e Ajur Veda, é no Atharva-Veda que se reconhecem referências mais especificas sobre o Ayurveda. Posterior aos Vedas mas ainda alguns milhares de anos antes de Cristo surgem 6 grandes tratados médicos, entre eles o Charaka Samhita (tratado de medicina interna) e o Sushruta Samhita (tratado de cirurgia), escritos inicialmente para treinar médicos que se responsabilizassem pela saúde dos governantes dos reinos pois estes refletiam a saúde do estado e manutenção da estabilidade política.
    Foi na era de Gautama Buddha (563-483 a.C.) que o Ayurveda viveu a sua fase gloriosa, pois o próprio Buda era um grande estimulador de sua prática e estudo, excepção feita à prática cirúrgica por ser valor máximo do budismo a não violência (incluindo práticas cirúrgicas e investigação).

    No século III a.C., motivado pelos ensinamentos de Buda, Ashoka (imperador do norte da India) converteu-se ao Budismo e construiu hospitais de caridade, com setores de cirurgia, obstetrícia e problemas mentais, por todo o reino, não somente para seres humanos, como também para animais. E enviou emissários para países vizinhos, o que ajudou a difundir ainda mais o Budismo e o Ayurveda fazendo o Ayurveda chegar ao Sri Lanka. Durante os dois reinados posteriores, houve grande incentivo à prática da medicina Ayurveda com o governo a patrocinar hortos de plantas medicinais, construir hospitais e maternidades e punição de charlatões que tentavam praticar medicina sem permissão imperial. Em simultâneo o incentivo da prática estimulou o aprendizado tornando-se igualmente um período intelectualmente fértil com a construção de verdadeiras universidades onde eram ensinados, além do Budismo e da ciência védica, história, geografia, gramática, literatura sânscrita, drama, poesia, leis, filosofia, matemática, astrologia, astronomia, comércio, artes bélicas e medicina. A mais famosa destas universidades era a de Nalanda, que fechou portas por volta do século XII d.C., após quase 800 anos de funcionamento.

    A Era de Ouro do Ayurveda tinha chegado agora ao fim, ou perto disso.
    Entre os séculos X e XII, as repetidas e violentas invasões da India por muçulmanos levaram ao assassinato de monges budistas, destruição de universidades e bibliotecas. Aqueles que conseguiram escapar fugiram para o Nepal e para o Tibete levando os poucos textos ayurveda que conseguiram (alguns destes preservados até hoje apenas na tradução tibetana, daí o equivoco de associar a medicina tibetana a algo diferente de Ayurveda).
    No século XVI, Akbar, o maior imperador mongol, notavelmente esclarecido, ordenou que todo o conhecimento médico indiano fosse compilado, contribuindo ainda mais para a preservação do Ayurveda.
    Durante os séculos XVI e XVII, quando foram abertas as rotas para o Oriente, os europeus, difamam a sabedoria tradicional sugerindo esta ser a causa do “atraso” no desenvolvimento da India. O resultado foi que, após 1835, com a India sobre domínio europeu, somente a medicina ocidental tinha reconhecimento legítimo sendo a cultura e a medicina indianas ativamente desencorajadas e a tradição do ensinamento oral de mestre para discípulo quase perdida.

    No início do século XX, com a ascensão do nacionalismo indiano, a arte e a ciência indianas ressurgiram e o Ayurveda voltou a renascer. Atualmente é um dos seis sistemas médicos reconhecidos na India: Ayurveda, alopatia, homeopatia, naturopatia, Unani, Siddha (variedade de Ayurveda praticada ao sul da India) e o seu sucesso no mundo atual é inquestionável.

    “O Ayurveda tem origem em tempos imemoriais, a história não tem por isso memória da sua origem pelo que contaremos aqui a parte de que há memória ou/e registos.”

    Agora sim partilho o que me apaixonou por este corpo de conhecimento: primeiro, a sua história de quase 5.000 anos de tradição rompendo as barreiras impostas pelo tempo e pelas fronteiras culturais, sobrepondo-se a todas as transformações sociais, políticas e científicas que aconteceram entretanto; em segundo lugar o facto do Ayurveda não só se manter vivo no seu local de origem, mas a forma incrível como sem necessidade de se impor, invadir, descontrair outros sistemas, se expande pelo mundo e se insere naturalmente na vida dos mais diversos países do mundo; e em terceiro lugar, a capacidade evolutiva do Ayurveda e sua humildade de se aceitar “reconhecida” dentro do conceito de ciência e inserida no meio académico moderno, apesar de todos os preconceitos e separatismo de que ainda é alvo por parte da ciência moderna.

    [ Lara Lima ]

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    NARAYANA

    By | DAILY AYURVEDA

    Om Namo Narayanaya

    Narayana é um dos muitos nomes usados pela tradição védica para representar o senhor Vishnu, parte da trindade hindu (Brahma-Vishnu-Shiva) que se relaciona om a vida para preservar e sustentar a lembrança do mistério no Universo.

    Porque iniciar este Blog com uma referência a Narayana?

    Com o aumento exponencial do acesso à informação, ao conhecimento e à história de cada povo e símbolos, temos a oportunidade de nos aproximarmos ao que mais vibra connosco, o que nos inspira a agir, o que nos motiva a acção. Sempre fui uma pessoa de fé porém sem lhe saber dar uma direcção. Sempre houve em mim a certeza de que a Vida não podia ser apenas isto, que a realidade não era apenas a que os meus olhos alcançavam mas a representação da fé na cultura em que nasci deixou muito cedo de fazer sentido pela ausência de histórias e presença de uma repetição evangelizadora que me perturbava em vez de me inspirar.

    Com os meus anos de estudo e prática dentro da Tradição Yoga e Ayurveda a afinidade com a mitologia Médica naturalmente se desenvolveu assim como o claro reconhecimento que esta abordagem mitológica tem para mim na forma como me permite observar e reconhecer a espiritualidade subjacente à vivência pessoal e com o planeta. 

    O meu propósito neste Blog, é apenas partilhar um pouco do que a mim me motiva a ser uma pessoa melhor, a desenvolver o meu potencial humano e praticar uma sabedoria de melhor viver comigo e com o Mundo (a isso chamo de Ecologia Pessoal e abordarei noutro texto).

    Para questões mais profundas e discussão sobre a veracidade dos textos mitológicos existem diversos e profundos estudos académicos e livros incríveis que referendam a espiritualidade nas mais diversas vertentes do pensamento – como na psicologia, na filosofia e na saúde.

    O nome Narayana é composto de Nara (humano, homem) e Ayana (eterno, sem fim), ou seja, é uma representação de Vishnu na Terra (único lugar até ver onde se encontram Seres Humanos). Apesar da sua forma humana – Nara, a matéria que constitui o corpo de Narayana não apresenta as qualidades perecíveis da matéria sendo então eterno, sem fim – Ayana. Neste contexto Narayana serve o nome de Deus, do Senhor que governa a Terra, o símbolo da mais perfeita ordem (em referência à ordem que premeia todas as coisas e situações, mesmo aquela que a nossa perspectiva limitada, no tempo e no espaço, não nos permite reconhecer), Narayana representa também o início.

    A sua representação mais comum é a que se apresenta na imagem acima, flutuando sobre ondas em cima das costas da serpente – Shesh Nag, segurando em cada mão um dos seus atributos divinos: um búzio – Pantchdjanya (que ao ser soprado ressoa o som que deu origem ao Universo – Om), um disco de energia – Sudarshana (representando o controle dos 6 sentimentos), um lótus Padma (que representa a pureza e verdade) e um cajado – Kaumodaki (que representa a força física e mental). Do seu umbigo, nasce uma flor de Lótus da qual emerge Brama, o deus criador do universo.

    Outros nomes de Vixnu que derivam dos seus atributos:

    • Acyutah (firme, permanente)
    • Ananta (sem fim, eterno, infinito)
    • Kesava (de cabelo abundante e belo
    • NARAYANA (o que está sobre a água)
    • Madhava (relacionado à primavera)
    • Govinda (chefe dos pastores: um nome de Krishna)
    • Madhusudanah (aquele que destrói o demônio Madhu)
    • Trivikrama
    • Vamana (anão)
    • Aridhara
    • Hrsikeshah
    • Padmanabha (de cujo umbigo brota o lótus que contém Brama)
    • Damodara (um nome de Krishna)
    • Gopala (pastor: refere-se a Krishna)
    • Janardanah
    • Vāsudeva (filho de Vasudeva: refere-se a Krishna)
    • Anantasayana
    • Sriman
    • Srinivasa

    _______________

    Lara Lima
    – Fundadora do Método BmQ
    – Professora Yoga & Ayurveda
    – Terapeuta Ayurveda